segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Descubra o seu potencial

(Por José Eduardo Costa)
Ele contornou uma tragédia que vitimou mais de 50 pessoas. Agora, Harry Kraemer conta, na sala de aula, o que aprendeu como presidente.

Há pouco mais de dez anos, o matemático e contador Harry Kraemer, então com 43 anos de idade, chegava ao topo de sua carreira na Baxter, multinacional americana do setor farmacêutico, que na época faturava 9 bilhões de dólares e tinha 48 000 funcionários. Harry entrou na Baxter em 1982 e percorreu diversos departamentos até chegar à presidência.
O que você acha que as companhias mais apreciam em um líder?
Bom senso. Existe uma tendência em tornar as coisas mais complicadas do que elas realmente são. Isso faz com que os gestores adiem decisões ou façam reuniões para tudo. Seria mais simples se usassem bom senso. Outro ponto é que muitos profissionais não se preparam para ser líderes. Geralmente, o sujeito espera pelo cargo e então vai buscar a formação para ser um bom gestor. O funcionário pensa: "Ah, vou deixar isso para o futuro. Afinal, eu ainda não tenho uma equipe". No futuro, essas serão as mesmas pessoas que se tornarão líderes incompetentes ou, no mínimo, problemáticos.
Como remediar isso?
O conjunto de competências para ser um bom líder tem de ser desenvolvido muito antes de se chegar ao posto. Digo para meus alunos na Kellogg que um líder precisa ter quatro características essenciais: reflexão, auto-estima, equilíbrio e humildade (veja o quadro abaixo). Todas elas podem ser trabalhadas no dia-a-dia. Melhor ainda se houver a ajuda de um mentor. De novo, quanto antes começar a trabalhar essas habilidades, maiores as chances de sucesso na carreira.
A quem cabe, então, o papel de formar a liderança?
Nunca acredite que a companhia vai assumir seu desenvolvimento. Digo aos meus alunos que assumam essa responsabilidade. Cabe a cada um de nós procurar as melhores ferramentas para crescer na carreira.
Essa é uma idéia que vem se popularizando nas duas últimas décadas, certo? Ainda assim, parece que as pessoas não atentam para a importância disso. Por quê?
Há 25 anos, quem estava entrando no mercado de trabalho ainda acreditava que se aposentaria pela mesma empresa em que havia começado. As gerações mais novas, e me refiro às pessoas que nasceram no final da década de 70 e início dos anos 80, são bem mais “móveis”. Ou seja, elas não querem permanecer em um único lugar. Elas se vêem trabalhando em cinco, seis lugares diferentes ao longo de sua vida. E isso só funciona se o indivíduo for o gestor da própria carreira. As empresas entenderam que, em vez de prometer o emprego pela vida útil do funcionário, seria mais honesto estabelecer uma relação de parceria, na qual ela ajuda o profissional a desenvolver seu potencial.
As escolas de negócios, em especial as americanas, falam muito da importância de adequar o perfil pessoal ao da empresa. Em tese, isso garantiria maior chance de progressão na carreira e de sucesso profissional. Você acredita nisso?
De forma alguma. Nós, na Kellogg, nos esforçamos para não perpetuar essa visão. Se você é realmente um bom profissional não tem que se preocupar se vai caber ou não em uma organização. Se você é um líder, o mais importante é saber até que ponto você quer levar a organização e as pessoas que estão lá. De novo, muita gente acredita que essa é uma visão que deve estar na cabeça do diretor e do presidente. Insisto que a mudança pode ser começada ou conduzida a partir de qualquer área da empresa. Mahatma Gandhi disse: “Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Ou seja, se você acha que tem de haver uma transformação, por que você não a começa? Achar que você deve encontrar uma organização em que melhor se encaixe é um jeito errado, a meu ver, de pensar a carreira.

Outro ponto bastante estimulado nas escolas de negócios é o treinamento para lidar com números, as tais competências quantitativas ou técnicas. Fala-se pouco de ética e de valores nos negócios, não acha?
É verdade e eu acho isso uma pena. Na realidade, a maioria das escolas de negócios gasta pouco tempo formando líderes. Para fazer isso, é necessário investir na transmissão de valores como ética e integridade. Também é preciso ensinar aos alunos que é fundamental saber motivar, entender os próprios valores, desenvolver pessoas e se comunicar. Óbvio que é importante ter as competências quantitativas. Do contrário, você nem entra no jogo. Mas um bom líder não lê apenas números.
Qual é o seu conselho para quem quer chegar ao topo de uma companhia?
Desenhe cinco linhas paralelas numa folha de papel. Essas linhas podem representar as diferentes funções, departamentos, unidades de negócio, ramo de atividade e geografia de atuação que fazem parte de uma grande empresa. A maioria de nós começa na parte mais baixa de uma dessas linhas paralelas. Freqüentemente, tentamos imaginar a melhor forma de percorrer uma única linha. No entanto, as pessoas não pensam em como colocar os braços em torno de toda a organização. Recomendo olhar as outras linhas. É importante não estar interessado apenas na sua linha de negócio. Vale muito mais ter uma visão global da organização. O quanto antes você percebe as oportunidades reais de se mover entre as linhas paralelas de sua companhia, maiores as chances de crescer e chegar ao topo.

As quatro competências do líder, segundo Harry Kraemer:

1 REFLEXÃO

2 AUTO-ESTIMA

3 EQUILÍBRIO

4 HUMILDADE

Revista Você S/A
Postado por Janaina

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